Estreias do Boston Celtics na Primeira Rodada dos Playoffs da NBA

Os Boston Celtics são sinônimo de tradição vencedora na NBA, mas todo grande título começa com uma estreia na primeira rodada dos playoffs. Desde os primórdios da franquia, nos anos 1940, até as temporadas mais recentes, as campanhas de primeira rodada trazem histórias emocionantes, estatísticas curiosas, varridas inesquecíveis, eliminações surpreendentes e momentos mágicos. A seguir, faremos uma viagem década por década, desvendando a trajetória do Celtics em cada estreia de playoffs, com curiosidades históricas e grandes atuações individuais que mantêm os torcedores vidrados.

Anos 1940 e 1950: Os Primeiros Passos

Nos primeiros anos da franquia, os playoffs da NBA tinham formatos diferentes. Até 1954, muitas vezes as equipes entravam diretamente nas semifinais de divisão ou disputavam um round-robin em vez de uma série tradicional. Foi somente em 1955 que os Celtics começaram a engatar vitórias em séries de abertura:

• 1948: Primeira participação em playoffs; derrota por 2–1 nos quarterfinals para o Chicago Stags.
• 1951: Derrota sem vitórias (0–2) para o New York Knicks nas semifinais de divisão – tecnicamente a primeira rodada da época.
• 1953: Primeira série vencida na história da franquia – 2–0 contra o Syracuse Nationals, com Bob Cousy marcando 50 pontos em um jogo de quatro prorrogações, recorde de pontuação nos playoffs à época.
• 1954: Formato round-robin – Celtics disputaram um grupo contra Knicks e Nationals, terminando 1–1 (vitória sobre os Knicks, derrota para os Nationals).
• 1955: Vitória por 2–1 sobre os Knicks na estreia, antes de cair na rodada seguinte para o eventual campeão Syracuse.

Curiosidade: Em 1953, Cousy anotou 30 de seus 50 pontos em lances livres, aproveitando-se de um recorde de faltas cometidas pelo Syracuse. O jogo terminou 111–105 após quatro prorrogações, considerado até hoje um dos duelos mais exaustivos dos playoffs.

Anos 1960: Domínio e Poucas Estreias

A década de 1960 foi uma era dourada para os Celtics, liderados por Bill Russell. Curiosamente, o formato dos playoffs fazia com que o time muitas vezes só entrasse em ação já nas Finais de Divisão, devido ao baixo número de equipes. Assim, as “estreias” dos Celtics nos playoffs daquela década ocorriam frequentemente já valendo vaga na final da NBA:

• 1960–1966: Em sete anos, Boston venceu seis títulos da NBA, quase sempre entrando direto nas finais do Leste. Por exemplo, em 1961, sua estreia foi vencendo o Syracuse Nationals por 4–1, e em 1965, já enfrentaram e venceram o Philadelphia Warriors em uma série de abertura dramática, definida em 7 jogos (conhecida pelo famoso “Havlicek stole the ball!” no jogo 7).
• 1967: Uma rara eliminação na estreia: após oito títulos seguidos, os Celtics caíram diante do Philadelphia 76ers por 4–1. Foi um choque nacional, pois aquele time do 76ers (liderado por Wilt Chamberlain) encerrou a sequência histórica de campeonatos de Boston e seguiu campeão da NBA.
• 1968–1969: Voltando à rotina campeã, Boston fez estreias sólidas – em 1969, entraram como 4º seed, eliminaram o Philadelphia por 4–1 na primeira rodada e prosseguiram até mais um título, underdogs sob o comando do veterano Bill Russell.

Estatística por década: Nos anos 60, os Celtics venceram todas as séries de estreia que disputaram, exceto em 1967, já que geralmente estavam no topo e entravam avançados.

Anos 1970: Renovação e Equilíbrio

Com a aposentadoria de Russell em 1969, os anos 1970 trouxeram reconstrução e novas estrelas (Dave Cowens, John Havlicek, Jo Jo White). As estreias nos playoffs variaram bastante:

• 1972 e 1973: Duas temporadas de 68 e 56 vitórias, mas ambas terminaram com eliminações inesperadas para o Knicks na segunda rodada. Nas estreias, vitórias sólidas contra Hawks (4–2) em 1972 e novamente Hawks (4–2) em 1973.
• 1975: Melhor campanha da NBA (60–22), vitória fácil sobre os Rockets 4–1 na estreia, porém derrota posterior nas finais do Leste.
• 1977: A volta aos playoffs após dois anos fora. Boston eliminou o San Antonio Spurs por 2–0 numa série melhor de 3 – essa foi a única vez que Celtics e Spurs se enfrentaram em playoffs, curiosamente antes dos Spurs migrarem ao Oeste.
• 1979: Não houve estreia – temporada desastrosa de 29–53, lanterna do Leste, preparando o terreno para a chegada de Larry Bird em 1979–80.

Nos anos 70, o Celtics sofreu algumas eliminações dolorosas na estreia: em 1977, 1978 e 1979 sequer foram aos playoffs, e em 1975 foram surpreendidos pelo Knicks na final do Leste, após uma estreia promissora. Entretanto, ganharam dois títulos (1974 e 1976), ambos começando a jornada de playoffs com triunfos seguros no primeiro confronto.

Anos 1980: Era Bird – Grandes Séries Iniciais e Varridas

Com Larry Bird, Kevin McHale e Robert Parish, os Celtics voltaram a ser potência. As estreias nos playoffs desta década entregaram confrontos memoráveis, incluindo séries perfeitas (sweeps) e atuações lendárias:

• 1981: Após um hiato sem título desde 1976, Boston não disputou primeira rodada (classificou direto às semifinais do Leste) e acabou campeão. A partir de 1984, o formato mudou e toda equipe enfrentava uma série melhor de 5 na primeira rodada.
• 1984: Temporada do 15º título. Na estreia, Boston eliminou o Washington Bullets por 3–1 – notável pelo duelo Bird vs. futuro técnico Kevin Loughery. Bird flertou com triplo-duplo de média. Seguiram-se jogos duros, incluindo virada contra Knicks na semi.
• 1986: Talvez o melhor time Celtics de todos os tempos (67–15). Varrida por 3–0 sobre o Chicago Bulls de um jovem Michael Jordan na estreia. Jordan anotou 63 pontos no Jogo 2 dessa série, o que levou Bird a dizer que enfrentara “Deus disfarçado de Michael Jordan” – mas, mesmo assim, o Celtics venceu em dupla prorrogação. Aquela equipe seria campeã, sweepando também Milwaukee na final do Leste.
• 1987: Outra varrida 3–0 sobre Chicago na primeira rodada. Foi a fase em que Boston dominava totalmente Jordan e cia na abertura dos playoffs, aproveitando a inexperiência daquele elenco dos Bulls.
• 1988: Último suspiro do Big Three original. Estreia: 3–1 contra o New York Knicks​. Essa série teve Bird x Patrick Ewing, e o Jogo 4 decidiu-se na prorrogação com Bird anotando 34 pontos. Boston avançou até a final do Leste, mas caíram para o Detroit Pistons.

No fim da década, 1989 e 1990 marcaram eliminações inéditas na primeira rodada. Em 1989, sem Bird (lesionado), o Celtics – 8º colocado – foi varrido 0–3 pelo eventual campeão Detroit Pistons, a primeira sweep sofrida na rodada inicial na história da franquia. Em 1990, já com Bird de volta porém envelhecido, perderam por 2–3 para os Knicks de Ewing, desperdiçando uma vantagem de 2–0 na série. Foi a primeira vez que Boston perdeu uma série de playoffs após abrir 2–0, sinal de fim de era.

Resumo anos 80 – estreias nos playoffs: 9 aparições, 7 vitórias de série e 2 eliminações; 4 varridas aplicadas (1980, 1981, 1986, 1987) e 1 varrida sofrida (1989). Abaixo, a tabela com destaque para as sweeps:

Nota: Até 1983 as primeiras rodadas eram melhor-de-3, de 1984 a 2002 melhor-de-5, e a partir de 2003 tornaram-se melhor-de-7. Isso torna as varridas pré-2003 3–0 tão significativas quanto as 4–0 posteriores, ambas chamadas de “sweep”.

Anos 1990: Fim da Era Bird e Recesso Prolongado

A aposentadoria de Larry Bird (1992) e as saídas de McHale (1993) e Parish (1994) mergulharam os Celtics numa fase de entressafra. As estreias de playoffs tornaram-se raras e, quando aconteceram, dolorosas:

• 1991 e 1992: Últimos suspiros de Bird. Em 1991, já baleado, liderou vitória suada sobre o Indiana Pacers por 3–2, série famosa por Bird voltar após bater a cabeça (Jogo 5) para anotar 32 pontos e eliminar Reggie Miller e Detlef Schrempf. Em 1992, sem Bird nos jogos (lesão nas costas), Boston ainda varreu os Pacers (3–0) com Dominique Wilkins jogando pelo adversário, antes de cair na fase seguinte​.
• 1993: Eliminados na estreia pelo jovem Charlotte Hornets de Alonzo Mourning e Larry Johnson por 3–1 – incluiu um game-winner de Mourning no Boston Garden que encerrou a carreira do técnico Chris Ford nos Celtics e marcou a primeira derrota para um time estreante em playoffs.
• 1995: Já sob comando de Rick Pitino, cederam a Shaquille O’Neal e Penny Hardaway (Orlando Magic) por 3–1. Este foi o adeus do Boston Garden, logo antes da demolição; Reggie Lewis já não estava (falecera em 1993), e assim fechou-se a era.
• 1996–2001: Nenhuma aparição em playoffs. A franquia amargou sua maior seca (6 anos). Foi a época da loteria do Draft de 1997 (perderam Tim Duncan, acabando com a 3ª e 6ª escolhas).

Em suma, década de 90 viu Boston só ganhar UMA série de estreia (1991) e perder quatro – a pior década em termos de primeiras rodadas. Duas eliminações inesperadas marcam muito os torcedores: 1993 para Charlotte (um time de 5 anos de existência) e 1995 para Orlando – esta doeu pela superioridade física do adversário e por ser a despedida de Dee Brown, último remanescente do time competitivo do fim dos anos 80.

Anos 2000: Ressurgimento com Pierce e Garnett – do Insucesso ao Título

Com Paul Pierce e Antoine Walker, Boston voltou aos playoffs em 2002, reanimando a torcida:

• 2002: Depois de 7 anos fora, Boston retornou e venceu uma série de estreia pela primeira vez em 11 anos – 3–2 sobre o Philadelphia 76ers. Foi uma série emocional: Pierce explodiu com 46 pontos no Jogo 5 decisivo em casa, vingando a eliminação de 2001 e superando Allen Iverson (que atuou no sacrifício). O Celtics avançou até as finais do Leste em 2002.
• 2003: Como 6º seed, surpreenderam o Indiana Pacers de Reggie Miller por 4–2 na primeira rodada. Essa série ficou marcada pela rivalidade Pierce vs. Ron Artest (Metta World Peace) e pelo Jogo 4, decidido na prorrogação com 37 pontos de Pierce. Mas na semifinal seguinte, veio o troco: sweep sofrido 0–4 para o New Jersey Nets.
• 2004–2005: Dois anos seguidos enfrentando o Indiana Pacers na estreia: em 2004, o Celtics entrou com campanha negativa (8º lugar) e foi varrido 0–4​ – primeiro sweep sofrido em série melhor-de-7 da história celta. Em 2005, agora 3º seed, fizeram série duríssima de 7 jogos mas perderam de novo para Indiana (3–4), desta vez sob liderança de Reggie Miller (sua última temporada) e com Pierce expulso no Jogo 6 após confusão. Foi um adeus amargo para Walker e o técnico Doc Rivers naquele biênio inicial.
• 2008: Com a formação do Big Three (Pierce, Garnett e Ray Allen), os Celtics voltaram ao topo da NBA. Na estreia contra o Atlanta Hawks, muitos esperavam uma varrida fácil do 1º colocado contra o 8º, mas não foi assim: a série foi eletrizante, 4–3 para Boston, com os jogos em Atlanta muito disputados (Joe Johnson e Josh Smith roubaram dois jogos). No Jogo 7 no Garden, Pierce e KG combinaram 50 pontos e ganharam por 34 de diferença. Essa vitória preparou o terreno emocional para o título daquele ano. Vale lembrar que todas as séries do Leste em 2008 foram Game 7 para Boston.
• 2009: Sem Garnett (machucado), coube a Pierce, Allen e ao recém-chegado Rajon Rondo liderarem uma das séries de primeira rodada mais espetaculares de todos os tempos: Celtics vs. Bulls, 4–3, com quatro partidas decididas na prorrogação (7 prorrogações somadas). Ray Allen anotou 51 pontos no Jogo 6 (triplo-duplo de Rondo também) e Ben Gordon brilhou pelo Bulls. Boston sobreviveu graças a Pierce, que selou o Jogo 7 com heroísmo. Apesar do cansaço, aquela saga de primeira rodada entrou para a história como talvez a mais equilibrada série de 7 jogos já vista.

Primeiras Rodadas dos anos 2000:

Como visto acima, a década de 2000 termina com Boston dominante nas estreias. Em 2010, embora tecnicamente faça parte dessa era, o Celtics com Pierce e KG veteranos venceu o Miami Heat de Dwyane Wade (antes da chegada de LeBron) por 4–1 na primeira rodada, incluindo um buzzer-beater de Pierce no jogo 3 e um recital de Wade de 46 pontos no jogo 4 – insuficiente para evitar a eliminação. Em 2011, veio a única varrida celta em séries de 7 até então: 4–0 sobre o New York Knicks​, com direito a Kevin Garnett decidir um Jogo 2 apertado com roubada de bola e cesta nos segundos finais. Aquele time acabou caindo na semi para o trio LeBron-Wade-Bosh, marcando o fim do Big Three original.

Anos 2010: Renovação com “Young Guns” e Chegada de Tatum & Brown

Após a troca de Garnett e Pierce em 2013, Boston rapidamente se reergueu sob o técnico Brad Stevens e, posteriormente, com a dupla Jayson Tatum e Jaylen Brown:

• 2013: Última aparição do velho grupo. 7º seed, derrota de 2–4 para os Knicks. Os Celtics quase viraram um 0–3 (forçaram jogo 6) com atuações de orgulho de Pierce e KG, mas foi a despedida deles em Boston.
• 2015: Primeiro playoff da era Stevens. Como 7º colocado, Boston caiu 0–4 diante do Cleveland Cavaliers de LeBron James. Apesar da varrida, Jae Crowder e Isaiah Thomas mostraram brio (Thomas teve média de 17.5 pontos saindo do banco). LeBron, porém, dominou – essa série teve contornos físicos, com Kevin Love deslocando o ombro após briga pela bola com Kelly Olynyk.
• 2016: Uma temporada promissora (48 vitórias) terminou em frustração na estreia: 2–4 contra o Atlanta Hawks. Isaiah Thomas brilhou (média 24.2 pontos), mas o Hawks, liderado por Paul Millsap, foi superior coletivamente. Este confronto ficou marcado pela lesão de Avery Bradley no Jogo 1 e pela “vingança” de Al Horford sobre o futuro time que defenderia.
• 2017: Melhor campanha do Leste (53–29) coroada com muitos dramas. A começar pela tragédia pessoal de Isaiah Thomas (falecimento de sua irmã Chyna no início dos playoffs). Boston, atordoado, perdeu os dois primeiros jogos em casa para o 8º seed Chicago Bulls de Jimmy Butler e do ex-Celtic Rajon Rondo. Porém, a partir do Jogo 3, recuperaram-se: Rondo machucou o pulso, Isaiah jogou inspirado e o Celtics virou para 4–2. Thomas teve média de 23 pontos e 5 assistências, coroando a virada com 33 pontos no jogo decisivo. Essa série acendeu uma chama especial – no round seguinte, Thomas marcaria 53 pontos contra Washington em outra exibição histórica.
• 2018: Início da era Jayson Tatum (calouro) e Jaylen Brown (segundo ano). Sem Kyrie Irving (machucado) e Gordon Hayward (fora a temporada toda), poucos acreditavam no 2º seed Boston contra o talentoso Milwaukee Bucks de Giannis Antetokounmpo. Mas o Celtics se agigantou no TD Garden: venceu todos os jogos em casa e segurou o Bucks fora, fechando 4–3. Tatum mostrou frieza de veterano (15.4 pts de média), e a série teve 5 jogos decididos por menos de 8 pontos. No Jogo 7, Terry Rozier (“Scary Terry”) e Al Horford combinaram para 46 pontos, superando Giannis e Middleton e inflamando a torcida. Foi o pontapé inicial de uma improvável caminhada até as finais do Leste daquele ano.

Destaques de 2018: Além da performance coletiva, o Celtics quebrou um tabu: desde 1979 não venciam um Jogo 7 de primeira rodada. Com a vitória sobre Milwaukee, essa escrita acabou, mostrando que o futuro era brilhante com a garotada.

• 2019: A chegada de Kyrie Irving e Hayward saudáveis elevou expectativas. Na estreia, Boston varreu o Indiana Pacers 4–0. Interessante que todos os jogos foram equilibrados (diferenças de 10 pontos ou menos), mas Al Horford anulou completamente Domantas Sabonis e Myles Turner, enquanto Kyrie brilhou ofensivamente (22.5 pts/jogo). Essa foi a primeira sweep do Celtics em séries de 7 jogos na primeira rodada, e o primeiro 4–0 desde 2011. Infelizmente, a harmonia do time se quebrou na rodada seguinte contra Milwaukee.
• 2020: Playoffs “da bolha” em Orlando, sem público devido à pandemia de COVID-19. O Celtics, 3º seed, encarou logo de cara seu antigo rival Philadelphia 76ers, desfalcado de Ben Simmons. Resultado: varrida por 4–0, com Jayson Tatum dominando (27.0 pontos e 9.8 rebotes de média) e Jaylen Brown contribuindo com 21.5 pontos. Um dado marcante: foi a primeira vez que Boston varreu Philadelphia em 21 duelos de playoffs desde 1953, exorcizando um fantasma histórico. Tatum teve jogos de 32 e 28 pontos, enquanto Kemba Walker, estreando em pós-temporada pelos Celtics, colocou 32 no Jogo 4.
• 2021: Campanha irregular (36–36) e saída no play-in como 7º. A estreia foi duríssima contra o Brooklyn Nets do trio Durant-Harden-Irving. Boston perdeu 1–4, mas não sem brilho: Jayson Tatum explodiu para 50 pontos no Jogo 3, garantindo a única vitória celta. Mesmo com Jaylen Brown ausente (lesionado), Tatum duelou de igual pra igual com Durant em alguns momentos, mostrando ser capaz de assumir o manto de superstar. Porém, no geral, Brooklyn foi dominante e essa eliminação marcou o fim da era Stevens como técnico (passou a dirigente após 2021).

2022–2023: Rumo ao Futuro – Tatum, Brown e Alta Expectativa

Com Ime Udoka (2022) e depois Joe Mazzulla (2023) no comando, e Tatum/Brown no auge, Boston viveu novas estreias de playoffs empolgantes:

• 2022: Segundo lugar no Leste, confrontando logo na primeira rodada o Brooklyn Nets (agora sem Harden, mas com Durant e Irving) – revanche do ano anterior. Diferentemente de 2021, Boston se impôs e varreu o Nets por 4–0. A série teve jogos apertados: no Jogo 1, Tatum fez a bandeja da vitória no estouro do relógio (115–114), capitalizando um giro sensacional após passe de Marcus Smart. A defesa, liderada pelo Melhor Defensor da NBA (Smart) e pelo onipresente Al Horford, conteve Durant a 26.3 pontos com aproveitamento baixo. Kyrie Irving, em seu retorno a Boston nos playoffs, chegou a marcar 39 pontos no Jogo 1 mas depois foi neutralizado. Essa varrida foi simbólica: mostrou o Celtics maduro, que se vingou de 2021 e arrancou rumo às Finais da NBA.
• 2023: Outra campanha de segundo lugar (57–25) e favoritismo. Estreia contra o Atlanta Hawks de Trae Young. O Celtics abriu 2–0 com autoridade (vitórias por 13 e 8 pontos), mas relaxou e sofreu um susto: Young meteu um logo 3 (arremesso de muito longe) nos segundos finais do Jogo 5 em Boston para roubar a vitória e forçar o sexto jogo. Naquele jogo 5, Dejounte Murray não jogou (suspenso), mas Young brilhou com 38 pontos e silenciou o Garden. Porém, no Jogo 6 em Atlanta, Jayson Tatum e Jaylen Brown combinaram 62 pontos e fecharam a série em 4–2. O lance icônico foi Brown – usando máscara facial devido a fratura – acertando cestas decisivas enquanto a defesa forçava Young a erros no fim. Essa vitória carimbou o Celtics em semifinais pelo segundo ano seguido, com Tatum consolidando-se entre os melhores da liga.

Estatísticas Gerais e Curiosidades por Década

• DÉCADA 1950: Formato variável – 3 eliminações e 2 avanços. Primeira vitória só em 1953. Bill Russell chegou em 1957 e aí não houve mais “primeira rodada” tradicional, saltando fases.
• DÉCADA 1960: Celtics geralmente já estavam nas finais de divisão, mas sempre venceram suas estreias quando as jogaram, exceto 1967 (derrota para 76ers).
• DÉCADA 1970: 4 aparições (1972, 1973, 1975, 1977) – 3 vitórias, 1 derrota. Destaque para 1973: melhor campanha da história (68–14) eliminada pelo Knicks após passar pelos Hawks.
• DÉCADA 1980: 9 aparições – 7 vitórias, 2 derrotas. Celtics nunca perderam uma série de primeira rodada com Bird em quadra até 1990. Somaram 4 sweeps a favor (1980, 1981, 1986, 1987) e sofreram primeira derrota por sweep em 1989.
• DÉCADA 1990: 5 aparições – 1 vitória, 4 derrotas. Única vitória em 1991. Foi a “década perdida” para Boston, compensada pelos anos 80 gloriosos e a ressurreição no fim dos 2000.
• DÉCADA 2000: 5 aparições – 3 vitórias, 2 derrotas. Marcada pela chegada de Pierce e depois do Big Three. Primeiro sweep sofrido em Bo7 (2004) e primeiro título desde 1986 (2008).
• DÉCADA 2010: 8 aparições – 6 vitórias, 2 derrotas. Início difícil (2013, 2015, 2016 perdendo), mas de 2017 em diante, Celtics passaram a dominar primeiras rodadas. Destaca-se 2018 com elenco jovem superando expectativas e 2019–2020 com sweeps consecutivos.
• DÉCADA 2020: Até 2023, 4 aparições – 3 vitórias, 1 derrota. Entrando consistentemente como candidatos ao título, Boston tem confirmado favoritismo na rodada inicial nos últimos anos.

Números gerais: Em 62 participações nos playoffs (até 2023), os Celtics jogaram 47 séries de primeira rodada (contando quartas de final de divisão etc. no passado) e venceram cerca de 70% delas. No formato atual (desde 1984), Boston disputou 30 séries de 1ª rodada, vencendo 22 e perdendo 8. Destas 8 eliminações, metade foi considerada zebra (1989 vs Pistons, 1990 vs Knicks, 1993 vs Hornets, 2016 vs Hawks). E desde 2015, só caíram uma vez na estreia (2021 vs Nets).

Varridas aplicadas: Boston aplicou 10 sweeps na primeira rodada ao longo da história (considerando séries melhor de 3, 5 e 7): destaquem-se 1986 vs Bulls, 2011 vs Knicks​, 2019 vs Pacers e 2022 vs Nets.

Varridas sofridas: Sofreram 3 sweeps na estreia: 1989 (0–3 Pistons), 2004 (0–4 Pacers) e 2015 (0–4 Cavaliers).

Grandes Momentos e Atuações Individuais Marcantes

• John Havlicek (1965): Roubo de bola nos segundos finais do Jogo 7 contra Philadelphia – lance imortalizado pelo rádio (“Havlicek stole the ball!”) e que impediu a eliminação na estreia das finais de divisão.
• Dave Cowens (1973): Jogo 7 das semifinais do Leste (primeira rodada daquele ano) contra Atlanta: 24 pontos, 20 rebotes, 13 assistências – triple-double monstruoso do pivô, levando Boston à vitória e consolidando sua campanha de MVP daquela temporada, embora o título não tenha vindo.
• Larry Bird (1986): Embora Jordan tenha feito 63 pontos, Bird flertou com um triple-double na série (26.7 pontos, 8.6 rebotes, 14 assistências no jogo de 63 de MJ). No Jogo 3, Bird anotou 19 pontos no 4º período, garantindo a varrida. Ele mesmo disse estar “maravilhado” com Jordan​landofbasketball.com, mas deixou claro quem avançava.
• Reggie Lewis (1992): Última grande estrela “caseira” pós-Bird. Na varrida contra Indiana, Reggie teve média de 28.0 pontos, incluindo 36 no Jogo 2, superando Reggie Miller em pleno Market Square Arena. Infelizmente, um ano depois, faleceria precocemente, tornando aquelas performances ainda mais especiais na memória celta.
• Paul Pierce (2002): Jogo 5 vs 76ers, 46 pontos, 8 arremessos de três convertidos – transformou um déficit de 10 pontos no 4º período em vitória, marcando a “Volta do Orgulho Celta”. Pierce também brilhou em 2008 no Jogo 7 vs Hawks (22 pontos) e 2012 vs Hawks novamente (36 pontos no Jogo 2 sem Rondo).
• Rajon Rondo (2009): Média de quase um triplo-duplo contra Chicago (19-9-11) com atuações míticas: 19 assistências no Jogo 2, 28 pontos e 11 assistências no Jogo 4 triplo overtime, triple-double de 15-11-17 no Jogo 7. Seu duelo físico e verbal contra Kirk Hinrich e uma briga envolvendo Brad Miller adicionaram drama; Rondo se afirmou como astro nesses confrontos.
• Isaiah Thomas (2017): 33 pontos no Jogo 4 e 24 no Jogo 6 vs Bulls após começar a série sob forte trauma pessoal. Sua coragem – jogando com lágrimas nos olhos em momentos – inspirou o time. Meses depois, machucado e trocado, ele sempre será lembrado por esse sacrifício e liderança emotiva.
• Jayson Tatum (2022): 31 pontos no Jogo 1 vs Nets, incluindo a bandeja vencedora no estouro do cronômetro, e depois 29 pontos no Jogo 3, ofuscando Kevin Durant. Tatum assumiu de vez o posto de franchise player ao liderar esse sweep, sem nunca se intimidar pelo brilho dos adversários. Em 2023, complementou com 30 pontos e 14 rebotes no Jogo 6 de fechamento contra Atlanta – performance “all-around” que mostrou sua maturidade.

Evolução do Desempenho ao Longo das Eras

• Era Bill Russell (final anos 50 e 60): Celtics quase não jogava primeiras rodadas, tantas vezes tinha folga de classificação. Quando jogava, era favorito absoluto e cumpria as expectativas – a defesa de Russell e a frieza de Cousy e Havlicek definiram a dinastia.
• Era Havlicek/Cowens (anos 70): Inconstância. Ora chegavam como top seed e confirmavam (1974, 1976), ora sofriam upsets (1973). Havlicek em fim de carreira e Cowens carregaram o espírito competitivo, mas sentiram a renovação dos rivais.
• Era Larry Bird (anos 80): Domínio total nas estreias – Bird dizia que “playoffs é onde se separa homens de meninos”. Boston impunha respeito; derrotas na primeira rodada soavam impossíveis, até o físico cobrar seu preço no fim da década.
• Era “Big Three” moderna – Pierce/Garnett/Allen (fim anos 2000): Mudaram a cultura: em 2008, logo de cara mostraram que sabiam sofrer e vencer. A experiência de Garnett e Allen se uniu à fome de Pierce, evitando qualquer relaxamento contra azarões. Esse trio nunca foi eliminado na primeira rodada (3–0 em séries iniciais juntos).
• Era “Young Guns” – Tatum/Brown (fim 2010 e 2020): Em evolução constante. 2018 provou sua capacidade competitiva sem veteranos; 2022 mostrou sua excelência como favoritos. Com ambos chegando aos 25 anos, a tendência é manter Boston como presença constante e temida nas primeiras rodadas, impondo seu talento e aprendendo com tropeços (como 2021). Tatum especialmente já coleciona performances emblemáticas, e Brown complementa com consistência.

Confrontos Históricos Memoráveis

Alguns adversários se repetem nas estreias celtas, criando rivalidades particulares:

• New York Knicks: Clássico desde os anos 1950. Celtics levou a melhor na maioria (1951 perdeu; 1953 ganhou; 1967 ganhou; 1984 ganhou; 1989 perdeu; 1990 perdeu; 2011 ganhou; 2013 perdeu). Há equilíbrio e muitos trash talks nesse duelo I-95. A varrida de 2011 foi saborosa após uma eliminação em 2013 que doeu.
• Philadelphia 76ers: Inimigos íntimos. Desde 1953 (vitória Celtics) a 2020 (varrida Celtics), passando pelos embates Russell vs. Wilt e Bird vs. Dr. J, enfrentar Philly na estreia quase sempre significou sorte de campeão para Boston (vide 1981, 2008). Em 2020, Tatum e Brown adicionaram um capítulo de supremacia verde varrendo Joel Embiid.
• Chicago Bulls: Virou rivalidade na era Jordan e intensificou com Rondo e Butler. Celtics nunca perdeu uma estreia pros Bulls: 1981 varreu; 1986 e 1987 varreu com Jordan; 2009 ganhou no épico; 2017 virou série adversa. Esses confrontos geraram respeito mútuo: Jordan reverenciou Bird; em 2017, Butler elogiou Thomas pela bravura; Rondo, campeão em 2008 pelos Celtics, quase aprontou contra seu ex-time em 2017.
• Indiana Pacers: Curiosamente, 4 duelos de primeira rodada em sete anos (2003–2005, 2019). Boston venceu dois (2003, 2019) e perdeu dois (2004, 2005). Reggie Miller foi o carrasco em 2004/05, enquanto Kyrie comandou a vingança em 2019. Hoje, Pacers e Celtics mantêm respeito, mas sem rancor – até porque um certo Larry Bird presidiu os Pacers por anos, apimentando de leve as disputas.

Trajetória de Sucesso

A jornada dos Celtics em primeiras rodadas reflete a própria história da NBA: períodos de hegemonia, fases de reconstrução e retorno ao topo. A equipe soma uma porcentagem de vitórias altíssima nas estreias (cerca de 70%), e cada triunfo ou derrota inaugural pavimentou o caminho para o que viria depois – seja uma sequência de título ou uma reformulação no elenco. Dos tempos de Bill Russell (quando a primeira rodada quase não existia para Boston) à era atual de Jayson Tatum, o Celtics construiu uma mística: em casa ou fora, vestir verde nos playoffs significa luta intensa até o fim.

Os torcedores celtas se acostumaram a ver seu time dar o tom já no primeiro confronto. E se o passado serve de indicativo, as próximas estreias de playoffs certamente trarão mais capítulos emocionantes para essa riquíssima história, possivelmente anunciando novas conquistas rumo à tão almejada Banner 18 – afinal, toda grande campanha começa com um primeiro passo. E o primeiro passo do Celtics nos mata-matas costuma ser firme, apaixonante e repleto de legado.

Elaborado com dados históricos das campanhas do Boston Celtics, incluindo registros por temporada e séries dos playoffs desde 1947. Estatísticas de varridas e séries decisivas compiladas de Land of Basketball e Basketball-Reference.